segunda-feira, 21 de maio de 2012

Segundas chances


A vida pede segundas chances. Terceiras, quartas. É o inglês que você parou e tem outra chance para recomeçar. A viagem que não deu certo naquele momento, mas volta com potencial de realização. O amigo que pisou na bola, mas putz, ele é tão legal que não tem como ignorar a existência. As segundas chances vem para nos mostrar uma maleabilidade divertida. Dão uma sensação de poder, de alívio, de tipo: “não foi agora, mas o mundo dá voltas e lá na frente tudo se ajeita”. Eu gosto de segundas chances.

Tem gente por aí que critica. Tem gente que não se permite. Que não acredita num mundo melhor. Eu acredito que as pessoas mudam. Vale dar uma segunda chance a quem errou. Quem aqui não erra? Vale dar uma segunda chance aos nossos erros e, por que não, aos nossos acertos. Vale acreditar que pode ser diferente. Nem que seja para lá na frente olhar para trás e ver que tentou de tudo, que não desperdiçou a chance de ser feliz por conta de um orgulho bobo ou por uma cabeça dura.

Lembro bem daquela fase de escola. Era prova e se você fosse mal, tinha a recuperação. Se desse nota abaixo da meta de novo, tinha uma outra prova. E, no fim, se nem assim rolou, vinha um conselho de classe que te aprovava se tivesse tido um bom comportamento durante o ano. Aí  agente cresce e tiram da gente esta facilidade, este poder do novo, da renovação. Depois que fomos condicionados a tentar sempre, depois que entendemos que com chances as coisas dão certo, depois que tivemos sucesso na terceira vez, nos deixam órfãos de tentativa.

A moral é: eu tenho dado segundas chances à vida. Pode dar certo, pode não dar. Posso dar uma terceira, uma quarta se eu achar que vale a pena. E posso simplesmente recuar, se achar que esta segunda chance está atrasando a minha vida. A real é que eu estou me lixando para números. A matemática nunca foi mesmo o meu forte. Para mim, é sempre a primeira chance. Pra mim.  

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O tal do fim


Homem de cabelo comprido é estranho. Unha decorada, salgado com doce, frio no verão. Piscina aquecida, chuveiro queimado. Sujeira na praia, família desunida, eu te amo em um primeiro encontro. Amigas que não se desgrudam e falam mal umas das outras, telefone que dá ocupado só depois de 10 segundos, vírus no computador. Cabelo que muda só pela água do chuveiro, fax (!), fanatismo religioso. Mistura de cheiros, comida de avião, ligação de gente que só sabe pedir. Indecisão, indefinição, falta de vontade. Isso tudo é estranho. Agora, pra mim, estranho mesmo, é encerrar ciclos. Estranho, esquisito, triste e feliz. Tudo ao mesmo tempo, bem misturado mesmo.

Terminar namoro, por exemplo. Você acostumou com a pessoa, aprendeu a dormir só do lado direito da cama. Conseguiu acostumar a tomar banho um pouco menos quente, a tomar vinho seco, a comer aquelas coisas diferentes. Se apaixonou pela família, ficou amiga dos amigos, dedicou tempo, minutos do plano de celular, finais de semana. Aí acaba. Você sabe que a decisão foi racional, sabe que fez certo, mas no peito fica aquela sensação esquisita. Um negócio de não-sei-como-era-a-minha-vida-antes. Um tal de preciso reaprender a andar sem. Apresento-lhes, então, o fim do ciclo. É um bicho doido que aperta o peito e causa uma confusão danada.

E eu estou enfrentando um destes fins. Não de namoro (ainda bem), mas de um casamento que durou três anos e me fez crescer dia após dia. Não era um homem, não tive filhos deste relacionamento. Meu casamento foi com uma empresa que, coincidentemente, chama Ideal (e vou falar, viu?).  Estou de partida, certa de que a minha decisão foi correta, mas no meu coração fica um buraco. Este treco de fim não é fácil, não. Adoro mudanças, encaro sempre da forma mais positiva do mundo, mas, preciso confessar: a rotina já está fazendo falta. A saudade já está apertando. O lanche na padaria às 17h, o almoço cheio de gente querida, o happy hour sagrado das sextas-feiras. A partir de segunda não vou mais andando para a agência, não vão mais subir seis janelas no GTalk perguntando como foi o meu fim de semana, não vou mais ter o meu cantinho, com um meu buda cor-de-rosa me proporcionando a calma que preciso. Semana que vem não vou mais ter o Pilates na quinta, depilação da esquina, a manicure que tanto gosto, afinal, junto com a mudança de trabalho, vem a mudança de tudo que estava ao redor dele. Sim, coisas boas estão por vir. Tenho no meu peito toda a fé do mundo. Mas, não dá pra negar que este término de relacionamento está mexendo comigo. Foram três anos de um clima que nunca vi em lugar nenhum. De risadas, de aprendizado e, acima de tudo, de amizades que levo para a vida.

Vou encarar com a maturidade de quem sabe lidar com fins. Nunca fui boa em dizer tchau. Sempre levo comigo vestígios. Converso com ex-namorados. Tenho a papelada da época da faculdade, só para sentir que algo ainda me prende aquele momento. Achei a carteirinha do primeiro estágio. Tenho o apego que não deveria ter. Mas, para este fim, preciso falar: não quero ninguém me falando que apego é negativo. Vou levar comigo todas as lembras, todas as pessoas, todas os aprendizados, todos os momentos bons e ruins. Além do buda cor-de-rosa, que agora, além de me dar paz, vai me dar de presente recordações de quando ficarava no cantinho da mesa na Rua Virgílio de Carvalho Pinto.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Só hoje

Bom mesmo é perder o rumo, o tino, a hora. Se permitir
ignorar os planos pré-estabelecidos, pular as regras. Dizer não quando quer
dizer não, gritar sim quando se quer gritar sim. Quem disse que segunda-feira é
dia de correr? Ou que quinta tem que necessariamente pular da cama cedo para
fazer drenagem? E se eu não quiser? E se a minha vontade for jogar pro alto
todo ritual que mantive durante anos, para tentar mudar o caminho que estava
viciado em uma rotina que eu mesma estabeleci? Seguinte: pela primeira vez
resolvi fazer diferente. E se para ser realmente diferente preciso desmarcar a
hora, furar o encontro, readequar a agenda, coisas que nunca fiz. Agora farei.

Hoje é o dia de fazer o que dá na telha. Por impulso ou por uma
vontade que tem todo direito de ter vida própria. Dia de comprar passagem sem
pensar no amanhã, dia de trocar o exercício por um momento bom, dia de dormir
até mais tarde e deixar a praia para depois. O agora é o momento de apostar
fichas, de entregar o coração, de segurar uma razão que nunca foi muito
confiável.

Por anos o caminho que julguei certo me mostrou linhas
tortas. Por tempos tentei arrumar essas linhas, alinhar com planos de vida que
são meus (e, sim, Ana Carolina...”e que não abro mão”). Chegou a hora de
permitir mudanças. De deixar pra lá. De trazer pra cá.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Meu novo amor

Logo no primeiro dia do ano, me apaixonei. Assim, loucamente. E descobri tanta coisa da vida dele que, acreditem, posso prever o futuro. Ele vai ser um bom marido e um grande profissional. O nome do meu objeto de desejo é Caíque. E o Caíque tem 4 anos. O Caíque é irmão do Nathan, que tem 1 ano e meio e olha para o irmão como se fosse o maior super herói da terra. E, de repente, ele até é. Os conheci em um ônibus cheio, quando a mãe deles – uma mulher bastante educada – sentou ao meu lado com os dois pimpolhos no colo. Conversa vai, conversa vem. Pergunto se o Caíque já está na escola. A mãe responde por ele: claro, e é um ótimo aluno. Imediatamente, Caíque intervém, como se quisesse falar aquilo há tempos e tivesse precisando apenas de uma oportunidade. “Mãe, preciso te falar. É muito difícil ficar na escola. Eu não consigo parar de pensar em você nem um segundinho. Fico lá, imaginando se você está com saudade de mim, se meu irmão tá fazendo muita bagunça. Ai, mãe, não consigo me concentrar de tanto amor que sinto por você”. Ah, não. Ok, os mais céticos chamariam isso de chantagem emocional. Eu chamo de inteligência emocional. Ao meu ver, demonstrar sentimento assim, do nada, com gente estranha do lado, é uma atitude memorável. Principalmente para o Caíque e seus poucos anos de vida.

O Caíque, quando eu estava quase descendo do ônibus, perguntou para a mãe. “Mãe, por que a minha cabeça é dura?”. Nesta hora, tive que levantar e puxar a cordinha. Mas, ao sair, na minha mente ficou martelando a resposta que eu queria dar. Diria assim: Caíque, esquece esse cuco que faz até barulhinho ao bater três vezes. Esquece a questão do crânio, que você vai aprender na escola daqui algum tempo. Leve em consideração a maleabilidade que a vida pede. Tenha cabeça mole, cara. Concorde, tente, arrisque. Você vai ser mais feliz assim.