quarta-feira, 22 de abril de 2009

Ou não

Eu podia sair agora para comer alguma coisa. Eu podia também ficar em casa vendo filme ou sair para tomar uma vodca com guaraná em alguma baladinha com crianças de 15 anos. Eu podia fazer aquele filé de frango com alecrim, mas, pensando bem, eu podia comer um kibe com catupiry aqui na Esquina da Esfiha. Calma, eu não como carne vermelha há dois anos, por que comeria agora, se nem estou com tanta vontade? Dava para sair com as meninas que eu não vejo desde a época da escola, mas, pensando bem, vai rolar uma nostalgia e hoje eu acordei querendo sorrir 24 horas. E se eu fosse até o Museu da Língua Portuguesa? Sei lá, eu já fui três vezes e por mais que custe só R$6 eu não preciso gastar dinheiro, afinal, preciso guardar para o curso no Canadá ano que vem. Canadá? Mas não era África do Sul? Calma, acho que eu tinha decidido estudar por aqui mesmo e tentar só daqui uns quatro anos uma pós em Londres. Meu pai falou ontem para eu fazer o Mestrado direto, vale mais a pena. Respondi que a minha especialização tem que ser stricto mesmo. Mas o que você quer mesmo fazer, filha? Ah pai, aquela que eu falei semana passada, sobre projetos culturais e terceiro setor. Mas não era essa que você disse que não dava dinheiro? Era, né? Pensando melhor, vou mudar para uma de comunicação organizacional. Ou eu posso também fazer outra faculdade. Preciso investir meu dinheiro em algo útil. Vou comprar um carro. Putz, não tem garagem no meu prédio. Posso mudar de apartamento, tava querendo um maior mesmo. Mas péra, se eu dobrar o valor do aluguel, não vou comprar o carro. E nem fazer a pós. Muito menos o curso no exterior. Ah, quer saber? Vou colocar o dinheiro na poupança. Só preciso antes comprar umas roupas de trabalho. Eu odeio comprar roupa de trabalho, mas é o que eu mais faço, afinal, trabalhar também é o que eu mais faço. Deveria? Vou pegar um chá de camomila, estou ansiosa com uma resposta que tem que chegar rápido. Vai chegar e eu não vou saber o que fazer. Melhor tomar um café, eu preciso ficar ligada. Liguei a cafeteira, enquanto isso vou marcar salão, quero cortar meu cabelo. Oi, marca, por favor, para sábado, às 18 horas? Até lá dá pra decidir se eu vou cortar ou fazer só uma escova pra ele parecer mais comprido.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mais uma chance pra mim

Outro dia, enquanto eu fuçava vidas no orkut, apareceu uma janelinha do msn “janta comigo hoje?”. Já tinha ouvido que ele nunca me esqueceu, mesmo da atitude mais escrota da minha vida: fiz de tudo para conquistar, surtei que precisava daquele homem e, três dias depois do primeiro beijo e depois da milésima ligação em setenta e duas horas, eu resolvi que não queria nunca mais olhar para a cara do moço. Decidi que ele era sem graça, sem sal e nem 1% interessante. Coisa de geminiana.

Um domingo desses meu celular apitou. Mensagem. “Cinema ou teatro?”. Tudo que eu sempre quis. Um homem que não me chamasse para beber alguma coisa e conversar sobre nada. Ele queria ir ao cinema ou, ainda melhor, assistir uma peça. E não era qualquer peça. Era uma daquelas que exigem um mínimo de inteligência. Que não é qualquer pessoa que gosta de assistir. Eu adoro estes programas culturais complexos, mas, neste dia, preferi dormir. “Tenho que entrar mais cedo amanhã no escritório. Desculpa, ta?”.

Depois me ligou um amigo das antigas. Sempre fui a fim dele e o bonitão nunca me deu bola. Foi me ver na balada com outro que resolveu aparecer. Disse que estava me vendo de uma forma diferente. Diferente, amigão? Lançou um “sempre soube que você é a mulher certa pra mim, só estava numa fase meio assim, infantil”. Me assustou. Tudo bem que eu acho mesmo que ele só queria me testar, mas este “a mulher certa pra mim” me soou quase como um pedido de casamento. Mas eu jamais assumi.

E com tudo isso, eu continuo reclamando. Continuo falando por aí que estou cansada de estar solteira, que eu estou cansada de sentar em um bar e tomar cerveja que nem homem, que eu estou cansada de ler textos bonitos e não ter para quem enviar com aquele recadinho de final “muito nosso, não tinha como não lembrar de você”. E eu continuo indo para a balada, voltando fedida de cigarro e me sentindo a mulher mais sem alma do mundo. E insisto em falar o famoso clichê “ninguém me ama, ninguém me quer”. Continuo sem dar chance pra vida. Chance pra mim. Ainda programo o meu sábado sem nem pensar na possibilidade de aceitar uma dessas programações que citei. Continuo me achando auto-suficiente e esperando que o homem perfeito caia do céu. Preciso ouvir mais Jota Quest e colocar em prática aquela coisa de “o amor, pode estar, do seu lado”. Decidi que vou dar um abraço de urso nas possibilidades de ser feliz (mais?). Por mim.

*Erikitha, amiga do coração igual ao meu, o texto também foi pra você.